quarta-feira, 16 de outubro de 2013

POÉTICAS DO DIA-DIA - A Arte é Para Todos?

Sou artista visual e arte-educador e desde que iniciei oficialmente minha vida acadêmica há alguns anos, sempre me perguntei, o porquê da arte ser tão sacralizada ao mesmo tempo que é tão transcendental aos olhos das pessoas "comuns".

Me assusta o fato de museus aqui em Salvador serem tão deficientes de público enquanto em outras cidades com investimento sólido em cultura a realidade se diferencia consideravelmente. O que o museus de lá tem que os daqui não tem? E por quê as artes visuais são tão distantes das pessoas ao passo que a literatura, música, dança, teatro, mantiveram uma relação mais estreita com o público?

Talvez não haja resposta especifica pois muitos acusarão o cubismo com a complexidade imagética de Picasso, ou o Surrealismo de Magritte baseados nas leituras absurdas da psique humana, não sei ao certo, mas cada vez mais eu vejo o mesmo discurso "afffie, que coisa estranha!" ou "meu filho faz igual" e a obra a cada dia que passa dialoga menos com o público.

Não estou me referindo ao mercado como um todo, visto que muitos artistas contemporâneos tem obras significativas e de expressividade como a Patricia Piccinini e a sua leitura fortíssima e inquisidora do comportamento humano diante do incomum, ou o trabalho do Gil Vicente que gerou uma grande polêmica na Bienal de São Paulo de 2010 com desenhos que retratavam os grandes líderes mundiais ameaçados com armas na cabeça. A arte não é de impossível compreensão, ela é de difícil acesso.
http://www.bulkka.com/patricia-piccinini/


Autorretrato matando Ariel Sharon, 2005, carvão sobre papel, 200 x150 cm
Self portrait killing Ariel Sharon, 2005, charcoal on paper, 200 x 150 cm

O espaço do museu se tornou, aqui em Salvador, um espaço intimidador, e que desperta a desconfiança, principalmente em estudantes de escolas públicas que acreditam ser um lugar dedicado ao deleite das elites negando-lhes a presença. Na verdade parte disso é verdade. Durante anos as políticas públicas de investimento em arte visavam alimentar uma casta da sociedade com poder aquisitivo alto e chegar a esses lugares só tornava cada vez mais interessante, já que na época do governo Fernando Henrique foi reduzido o ensino das artes nas escolas. Um cenário, portanto não é complicado de se imaginar. O jovem que não teve o contato com arte na escola e não tem uma tradição familiar de gozo do conhecimento artístico vai despertar essa atração pela arte quando?

Defendo que a arte seja ela apresentada na forma de qualquer de suas milhares de facetas deve ser inserida com atenção no ensino fundamental e médio indiscriminadamente, seja no ensino privado ou público. A formação artística do indivíduo é fundamental para o desenvolvimento do olhar crítico do mundo que nos cerca e nos permite negar ou aceitar situações do dia-dia que nos são impostas constantemente.


Eu sou Rodolfo Carvalho, artista plástico, ilustrador e arte-educador.


Referências:

http://www.gilvicente.com.br/

http://www.patriciapiccinini.net/

http://file.org.br/?lang=pt

Um comentário:

  1. Vc tocou num ponto muito sensível e verdadeiro: museus e ambientes de artes em geral são tidos como intimidadores por boa parte das pessoas - quanto menos formalmente educadas e "elitizadas", pior essa sensação. Tudo decorrente de anos e anos de políticas públicas praticamente inexistentes de incentivo às artes e à educação artística em geral. Eu mesma, que fiz 12 anos de ballet e sempre fui fanática por literatura, cinema e teatro, até hoje não me considero preparada para entender e interpretar outros tipos de arte, como a pintura... #querdizer

    Gostei do começo do blog, vou frequentar! Boa sorte à equipe! xD

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